segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O culto à beleza corporal feminina no século XXI





Claudinéa Justino Franchetti
Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá

De modo geral, o jornalismo feminino do século XXI tem veiculado padrões femininos de beleza e de identidade com vista a idealizar um corpo perfeito. Refletindo sobre isso questionamos: ­o que leva o ser humano a priorizar o corpo em detrimento de tantas outras qualidades que deveriam ser notórias? Um bumbum redondo e durinho vale muito mais do que um bom papo, uma boa educação e um bom caráter?
Na sociedade atual o corpo perfeito tem sido o “tudo”. O corpo perfeito, belo, tem sido considerado como a “porta de entrada” para uma maior aceitação social e um troféu a ser conquistado com esforço. Por isso, a cada hora na academia esse corpo é um mérito a ser contado às amigas, em festas e mesas de bares, e cada curva conquistada é comemorada.
Uma crítica feroz a essa apologia aos corpos perfeitos, principalmente no Brasil, pode ser encontrada em uma música de Gabriel o Pensador chamada Nádegas a Declarar. Essa música reflete uma realidade sustentada pela mídia, a qual divulga uma cultura voltada à supervalorização do corpo em detrimento da racionalidade.
Indo ainda mais a fundo, podemos ver que modelos e atrizes estão expostas a esse padrão e são constantemente cobradas, principalmente a emagrecer, para não perderem seus empregos. Essas profissionais fazem de tudo para se encaixar no mercado de trabalho, e suas imagens são vendidas pela mídia como se fossem naturalmente belas, magras, saudáveis e felizes. Além disso, quando são pegas na praia, os paparazzi de plantão as fotografam com suas imperfeições, que são perfeitamente aceitáveis, e as mandam para os veículos de comunicação como se isto fosse um grande absurdo.
Por isso o padrão de beleza brasileiro divulgado pelos diversos meios de comunicação cada vez mais tenta persuadir o público feminino a tomar remédios fortíssimos, fazer dietas loucas, usar inúmeros cremes para evitar a aparência de envelhecimento, a malhar intensamente e outros meios para atingir o corpo perfeito. É a busca pelo padrão de beleza física perfeita.
É essa falsa mulher (criada muitas vezes em programas de tratamento de imagens, tais como o Photoshop) que está assombrando o mundo feminino brasileiro. Para serem aceitas socialmente as mulheres podem abrir mão do equilíbrio e da delicadeza em busca de um corpo idealizado, de um corpo construído ideologicamente pela mídia. Tais mulheres cada vez mais se tornam escravas de um modelo social e ao mesmo tempo estão suscetíveis à depressão e a transtornos alimentares.
Sobre este último aspecto, percebeu-se nas últimas décadas um aumento considerável de casos de anorexia e bulimia no Brasil. Muitas mulheres se expõem a riscos gravíssimos pelo simples fato de que a sociedade espera delas um corpo extremamente esbelto, como se isso dependesse apenas de sua vontade, excluindo fatores como a genética e o funcionamento corporal.
Em suma, percebemos que em grande parte do jornalismo feminino a construção da beleza feminina dá-se pelo marketing de cosméticos e produtos farmacêuticos. Neste sentido, pode-se observar uma avalanche de anúncios publicitários englobando os mais variados tipos de cosméticos para todas as áreas do copo, inúmeras dietas, dicas de ginástica, etc. Verifica-se também a criação de uma identidade feminina voltada à sexualidade e beleza mais do que a qualquer outra coisa. Soma-se a isso o fomento da ideia de que uma mulher bela e esbelta é aquela que mais tem oportunidades de inserir-se socialmente, de modo especial no mundo do trabalho.
De modo geral, é fundamental entendermos em que medida o jornalismo destinado ao público feminino deve ser tomado como um dos responsáveis pela criação e divulgação de padrões de beleza estabelecidos e impostos dentro dos meios de comunicação brasileiros. Isso pode gerar uma categorização feminina guiada pela visão biológica e social que é decisiva para promover ainda mais a desigualdade de gênero, trazendo em seu bojo uma relação assimétrica sob o escudo de um discurso embasado na valorização da estética física em detrimento da bagagem intelectual.


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